Uma das minhas principais preocupações enquanto treinador de Futebol é o bem-estar dos meus atletas, sobretudo se estiver a treinar crianças e jovens. Nesse sentido, considero que todos os Treinadores de Futebol de Formação devem ou deveriam dar bastante importância aos equipamentos usados pelos seus atletas, nomeadamente o calçado.
As chuteiras são um dos equipamentos imprescindíveis e mais importantes para um jogador de futebol. Em Portugal os clubes apostam cada vez mais no piso sintético para os seus campos/estádios, no entanto os jovens jogadores têm a tendência de adquirir chuteiras iguais aos dos seus ídolos (que jogam em relvado natural), não pensando que essas podem não ser as mais adequadas para eles. Por esse motivo os treinadores devem aconselhar e ajudar a decidir quais as chuteiras que melhor se podem adaptar aos seus jogadores, sendo que o piso onde irão treinar e jogar a maior parte das vezes durante a época, deverá ter um peso muito grande na escolha final do produto. Basicamente o que se pretende é que as chuteiras possuam os pitons adequados, de modo a dar maior apoio, estabilidade e tração.
A escolha das chuteiras é portanto fundamental para melhorar a prática, como também para evitar lesões ao nível do tornozelo e joelho. De acordo com o ortopedista Gustavo Arliani, especialista em Traumatologia do Desporto, estudos já mostraram que 24% das lesões nos membros inferiores ocorridas no futebol estão associadas a chuteiras inadequadas, que têm a tração excessiva ou insuficiente, sendo que normalmente as lesões ocorridas não são apenas e só da responsabilidade das chuteiras, e sim com a conjugação de outros fatores como: as condições do piso, fadiga muscular, excesso de treino...
Assim sendo, as chuteiras que os atletas devem optar, mediante o piso, são as que apresentam as seguintes características:
- Relvado – existem dois tipos de chuteiras para o relvado, que variam consoante o terreno estar molhado ou seco. Para terreno molhado os pitons deverão ser tipo lâmina de modo a poder penetrar facilmente na terra. Para o terreno seco os pitons deverão ser de borracha de tamanho médio;
- Sintético – os pitons deverão ser pequenos e em grande número;
- Pelado – Os pitons deverão ter um tamanho médio, com uma base larga.
Ainda dentro deste tema, penso que os Treinadores de Formação deveriam ter igualmente um papel mais interventivo junto dos seus jogadores quanto ao uso que estes dão às suas chuteiras (e quiçá junto igualmente dos Encarregados de Educação que por negligência ou falta de conhecimento não sabem dos malefícios que a utilização das chuteiras fora do campo de futebol podem trazer aos seus educandos).
É cada vez mais frequente observar crianças e jovens a utilizar as chuteiras fora do Campo de Futebol. O uso deste calçado tem sido cada vez mais banalizado, sendo que já observei o seu uso em alguns contextos completamente desajustados ao que é um campo de futebol, nomeadamente na escola (onde tive alunos que já me apareceram nas minhas aulas de Educação Física com chuteiras calçadas com esperança de poderem participar na aula, mas que consequentemente acabaram por ficar sentados a assistir à mesma), miúdos a jogar futebol no meio da rua e até em transportes públicos, sem contar as inúmeras vezes em que os miúdos vão para os treinos já com as chuteiras calçadas de casa.
Ora, andar com as chuteiras fora do campo de futebol, para além de acelerar a deterioração do equipamento, acaba por prejudicar igualmente os jovens atletas, pois segundo a Dra. Júlia Greve, Médica Fisiatra do Instituto de Ortopedia do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de S. Paulo, absorvem pouco o impacto, podendo criar lesões ao nível dos pés. Por outro lado os pitons não têm grande aderência fora do campo de futebol e por esse motivo a probabilidade dos jovens poderem escorregar, tendo como resultado da queda uma lesão, é maior.
Uma das medidas que os Treinadores podem adotar é a obrigatoriedade de as chuteiras apenas poderem ser calçadas no balneário (sendo que o ideal será mesmo equipar-se totalmente no balneário). Assim, para além de estarem a promover o bem-estar dos seus jogadores, também faz com que estes interajam mais uns com os outros enquanto estão nos balneários, pois infelizmente tenho observado cada vez mais que, devido ao facto dos jovens já virem equipados de casa, pouco interagem uns com os outros fora do contexto de treino.
Comments