Esta foi talvez um dos piores momentos que já tive enquanto treinador.
Ao fim de 17 anos de carreira, em 2017, pela primeira vez tive que tomar uma decisão que esperava nunca ter de tomar. A decisão foi dispensar um jogador durante o decorrer da época.
Um jogador, chamemo-lhe Z., que tal como todos os outros, no inicio da época tinha-o escolhido para fazer parte da minha equipa e que portanto contaria com ele até à final da mesma (naturalmente que já tinha dispensado jogadores, mas essas situações apenas tinham acontecido no final da época ou então na pré época com jogadores à experiência). Não existem jogadores insubstituíveis, mesmo quando determinados jogadores têm grande influência dentro do Modelo de jogo da equipa (como era o caso do Z.), mas no entanto continuo a defender que o coletivo é mais importante que o individual.
Z. acabara de ser expulso num jogo. Após ter recebido ordem de expulsão da parte do árbitro, Z. perdeu a cabeça. Estava de tal modo fora de si, que provocou um conjunto de incidentes graves (os quais não vou relatar, pois não interessam), nos quais tanto eu, como os restantes membros da equipa técnica e Diretores do Clube não se reveram em nada dnos seus atos. Devido ao seu comportamento, que acabou por pôr em causa o nome e prestigio do Clube, a Direção falou comigo e todos concordamos que Z. teria que sair, pois não poderíamos deixar passar em claro tais atitudes e sendo que ninguém pode estar acima de uma Instituição.
O ponto fundamental que me levou a escrever este artigo, não foi o facto de ter dispensado um jogador. O ponto fundamental deste artigo centra-se no titulo que escolhi para o mesmo. E o que é que o titulo tem a ver com tudo o que relatei até ao momento?
Na minha opinião, considero que o grande responsável por Z. ter este tipo de comportamento é o seu pai. Sempre que o pai ia ver os jogos, Z. tinha sempre um comportamento mais agressivo. Ele não conseguia focar-se na sua missão dentro do campo. O pai, sempre a gritar para dentro do campo a chamar nomes a tudo e todos (até aos seus colegas de equipa e a mim próprio), sempre a picar o Z.. Notava-se claramente que este comportamento do pai, vindo do lado de fora do campo, afetava o Z. de tal maneira que o seu rendimento era sempre inferior, relativamente aos jogos em que o pai não assistia.
Ok, mas o Z. é um jogador senior, se calhar já não deveria sentir-se influenciado pelo comportamento do pai. Certo? Errado… Já conhecia o historial do Z., que sempre foi um rapaz problemático (problemático dentro do campo, pois fora do mesmo, um miúdo 5 estrelas). Nas camadas jovens o pai estava sempre a gritar com ele, sempre a pressionar o miúdo, de tal modo que (dizem) que uma vez o Z. não tinha jogado bem e quando chegou ao carro, levou uma chapada. Agora imaginem o que é um miúdo que joga futebol desde os 7 anos de idade, ano após ano estar sempre sujeito a este tipo de pressão. Muitos acabam por desistir. Outros continuam a sonhar em chegar ao topo (como é o caso do Z.), mas devido a esta pressão, de vez em quando têm que arrebentar.
Tal como Z. conheci outros casos, por exemplo, um pai que filmava todos os jogos do filho e depois em casa obrigava-o a ver o jogo para ver os erros que cometia. Outros pais que, infelizmente podemos encontra-los facilmente no futebol juvenil em muitos campos deste país, insultam os miúdos adversários e árbitros, dão instruções aos seus filhos (lembro-me de um caso que aconteceu numa equipa do escalão Infantil 11, em que numa falta a meio do meio campo ofensivo, um pai gritou para dentro do campo para que rematasse à baliza), culpabilizam um colega de equipa do filho pela derrota, etc... Depois claro, muitas pessoas ficam admiradas quando assistem a determinados vídeos que passam pelas redes sociais de pais à estalada uns com os outros. É por estas e outras razões que não descrevi, que escrevo
CARTÃO VERMELHO PARA ESTES PAIS! RUA, NÃO FAZEM FALTA AO FUTEBOL!
Mas acima de tudo
RESPEITEM OS VOSSOS FILHOS!
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