Vivemos momentos ímpares na história da Humanidade. Em pleno século XXI um vírus foi capaz do impensável. Parar o Mundo e demonstrar que apenas “um simples e pequeno vírus” pode alterar o rumo da história da humanidade. Tudo parou, e o Futebol não foi exceção.
Pelo nosso país todos os campeonatos foram suspensos e perante o cenário de que esta pandemia não se irá resolver tão cedo, a FPF, decidiu dar por terminada a época desportiva 19/20, de todas as competições do Futebol de Formação que organiza, não atribuindo nem campeões nem o regime de subidas e descidas de divisão. Pelo que sei até ao momento, também a Associação de Futebol de Ponta Delgada tomou a mesma decisão, não tendo conhecimento das decisões das restantes Associações. Acredito que perante este cenário, as restantes Associações irão tomar a mesma decisão que a FPF, até porque se o regime de subidas e descidas de divisão não serem atribuidas, logo as equipas que poderiam ir para o Nacional nos diferentes escalões, ficarão impedidas de o fazer.
Em primeiro lugar sou totalmente a favor desta decisão. Atribuir títulos/subidas ou descidas de divisão sem que os diferentes campeonatos não tivessem terminado é um erro, isto porque o futebol é rico em surpresas e não é de todo uma ciência exata (fazendo um paralelismo com a Justiça: “É melhor correr o risco de salvar um homem culpado do que condenar um inocente” esta frase aplica-se sobretudo aos clubes que neste momento encontravam-se a lutar para não descer de divisão). Tal como a minha opinião, as redes sociais “inundaram-se” de opiniões diversas sobre o tema. Algumas em concordância, outros em discordância, questões pertinentes... No entanto, o motivo pelo qual escrevo este artigo prende-se às opiniões manifestadas por alguns Treinadores de Formação que são contra esta medida pois a sua principal preocupação (pelo menos foi a ilação que tirei após ler as suas opiniões) é o de não poderem subir de divisão.
Continuo a defender a ideia de que os treinadores que treinam equipas de formação com o principal objetivo de se auto promoverem, através do resultado desportivo, não deveriam treinar essas equipas. Sou da opinião de que em qualquer equipa (mesmo na Formação), ganhar deve ser um dos objetivos, até porque "em desporto não tentar ganhar é ser um competidor desonesto" (Maetens, 1999), mas daí a reduzir as metas de uma época apenas ao resultado é totalmente errado. É igualmente errado a premissa de que quem anda no futebol de formação faz inúmeros sacrifícios e que agora todo o trabalho de uma época vai por água abaixo porque os resultados desportivos alcançados não serão contabilizados. O correto seria refletir se os sacrifícios que fizeram ao longo da época contribuiu de forma significativa para a aquisição de competências dos jovens da sua equipa em diferentes áreas: pessoais, desportivas, educativas e morais.
Questiono-me se esses treinadores: - têm mantido contacto com os seus jovens atletas (e quando digo contacto refiro-me a conversar com eles pelo telefone e não enviar mensagens para os grupos que têm nas redes sociais ou aplicações); - prepararam algum plano de treino individual para que os jogadores possam manter a forma física e melhorar a técnica; - se nos contatos (caso o mantém) mostram preocupação com a escola, a alimentação, o facto de estarem fechados em casa;
Na minha opinião, são estas questões que se agora estes treinadores derem a devida importância, tenho a certeza que no futuro estes jovens irão lembrar-se: que na época 2019/20 poderiam ter subido de divisão, mas que sobretudo tiveram um TREINADOR que mesmo numa situação de calamidade não se esqueceu deles e que fez tudo o que estava ao seu alcance para que eles continuassem a evoluir enquanto pessoas, mesmo estando em fechados em casa.
Pelo menos era assim que (dadas as circunstâncias especificas em que estamos a viver) eu gostaria de ser relembrado no futuro!
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