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E PORQUE NÃO PROMOVER O FUTEBOL DE RUA NOS CLUBES?

  • Foto do escritor: Vitor Escudeiro
    Vitor Escudeiro
  • 11 de jul. de 2022
  • 4 min de leitura

Atualizado: 11 de jul. de 2022



É cada vez mais consensual que o Futebol de Rua é fundamental para o desenvolvimento dos jovens jogadores, sobretudo agora que a modalidade está cada vez mais "mecanizada" começando a observar-se essa "mecanização", cada vez mais cedo, em equipas de escalões mais novos, onde não há lugar à criatividade, iniciativa, improvisação ou liberdade de decidir.


Mas o que torna o Futebol de Rua tão especial?

Em primeiro lugar não existe a intervenção de adultos. Este fator é fundamental para deixar que as crianças e jovens possam dar aso à sua criatividade, improvisação, iniciativa e tomada de decisão. José Boto, diretor do departamento de scouting do Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, afirma: “O futebol de rua favorece porque te dá criatividade, te dá experimentação. Como não há cobrança do erro, o jogador não tem problema nenhum em errar, experimentar, tentar e voltar a tentar”.


Não há árbitros, cones, coletes, nada que identifique os colegas de equipa, logo as crianças têm que jogar de cabeça levantada e estarem atentas a outros sinais para identificar os seus parceiros.


Raramente o jogo está parado, o que torna um jogo mais intenso, corrido, com poucas pausas, o que permite um maior ganho a nível físico. André Jardine, treinador da Seleção Brasileira Sub-20: “A importância é muito grande para todo o esporte, não só para o futebol. Acredito que, quanto mais rica a infância, quanto mais na rua, maior o acervo motor que, se ela (criança) resolve ir para o esporte de alto rendimento, ela já chega dotada de muitos elementos físicos acima das crianças que não tiveram isso”.


Os diferentes tipos de piso (irregular/desnivelado), e “barreiras” que possam eventualmente existir, são essenciais para o desenvolvimento técnico das crianças e jovens, devido à imprevisibilidade da trajetória da bola perante estes obstáculos, como também os diferentes tipos de calçado que "obriga" à criança adaptar-se para conseguir controlar a bola. Os próprios jogadores de top reconhecem a importância que teve o futebol de rua para o seu desenvolvimento motor: “Praticamente tudo que sei aprendi a jogar na rua. (...) Tinha de usar as paredes, que me ajudam a fazer tabelas, a contornar o lixo e os buracos, e tudo isso melhorou a minha técnica... aprendi tudo no alcatrão” Rooney; “Para os brasileiros, a rua é o lugar onde se aprende a jogar futebol. Você percebe na movimentação, no primeiro toque, na nossa capacidade de controlar a bola em velocidade” Neymar.


Todos jogam, independentemente da idade (novos e velhos) e/ou complexão física (fortes e fracos), ajuda os jogadores a criar estratégias para evitar o contacto e de tentarem superar essas adversidades. Ruben Jongkind, Diretor da Universidade Cruijff adianta ainda mais: “ Quando uma criança joga na rua e cai, magoa-se: e muito. Por isso, quando cai uma vez, o cérebro dela vai criar mecanismos de defesa para não cair outra vez. Esses mecanismos têm que ver sempre com espaço. Porque têm a ver com o espaço? Simples: porque quando ela entra em contacto físico, corre o risco de cair. Por isso, e para evitar o contacto físico, tem de criar espaço, tem de fugir ao confronto com os outros jogadores. Isso é muito importante, porque no futebol decisivo é fundamental saber criar espaço.”


Estas são algumas vantagens que o Futebol de Rua proporciona às crianças e jovens e visto que estamos a iniciar uma nova época desportiva, gostava de lançar um desafio aos Coordenadores de Formação: INTRODUZIREM O FUTEBOL DE RUA NOS SEUS CLUBES.

Sei que muitos concordam com o que foi escrito em cima, então porque não aplicar?


Pelos clubes que passei, e por outros tantos que conheço, muitos são os que têm espaços (extra campo) para que os seus jogadores possam experienciar o Futebol de Rua. Basicamente o clube só tem que disponibilizar o espaço e uma bola, o resto é com as crianças. Poderá eventualmente haver um adulto a supervisionar (sem qualquer tipo de intervenção) por uma questão de segurança. As estratégias, para aplicar este conceito nos clubes, podem passar por:

- os atletas que chegam mais cedo ao clube, podem ir para esse local jogar;

- definir um treino semanal de futebol de rua;

- em dias que não há treino, os jogadores podem ir ao clube para jogar...


Importante: não vale a pena tentar replicar o Futebol de Rua no Clube se depois têm treinadores que castram toda a criatividade, iniciativa, improvisação ou liberdade de decisão dos jovens jogadores.


Estou ciente que esta ideia tem os seus constrangimentos, tais como o espaço (que pode ser inexistente), a iluminação (neste caso a falta dela) e até mesmo os encarregados de educação (não verem com bons olhos os filhos a jogar futebol fora do campo), sendo que nem todos os clubes o poderiam implementar. No entanto, penso que aqueles clubes que têm as condições para o fazer, deveriam de ter a coragem de implementar o projeto, nem que fosse apenas parte da época, para posteriormente fazer uma avaliação e perceberem se o projeto teria pernas para continuar ou não.


Se ainda existem dúvidas, deixo a última questão: Se o Ajax (clube de Top Europeu e Referência ao nível da Formação) leva os seus jogadores para a rua, porque não copiar o bom exemplo?


“A rua vai te dar mais necessidade da habilidade, porque você não precisa driblar só o adversário, você precisa driblar o terreno.” PVC



Webgrafia:

  • Footure - O JOGO DE RUA COMO FERRAMENTA DE DESENVOLVIMENTO E ESSÊNCIA DO FUTEBOL BRASILEIRO - https://footure.com.br/jogo-de-rua-alex-pvc-jardine-boto-vini-jr/

  • Serginho Lopes - Regresso ao futebol de rua? Uma questão cada vez mais recorrente - https://pt.linkedin.com/pulse/regresso-ao-futebol-de-rua-uma-quest%C3%A3o-cada-vez-mais-sim%C3%B5es-lopes

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