“No Futebol tal como na vida têm de existir carácter, valorização pessoal e profissional, ética, responsabilidade ...” Jovem Treinador Há uns tempos atrás, um jovem treinador de futebol, escreveu na sua página um texto para reflexão sobre o atual estado do futebol português (sobretudo no amador), o qual pessoalmente gostei e por esse motivo decidi hoje também (como já o tinha feito na sua página) deixar a minha opinião.
Na sua reflexão, o facto de o futebol português estar nivelado por baixo terá haver com a falta de investimento (ao nível monetário), na escolha dos treinadores de futebol, pois há sempre alguém que se disponibiliza para treinar por valores muito baixos e até em alguns casos gratuitamente.
Partilho da sua preocupação, pois como em tudo na vida, também no futebol existem bons e maus treinadores, que não sendo regra (pois existem sempre excepções), normalmente os bons treinadores ficam nos “melhores” clubes. Mas penso que o problema não reside só no facto de haver sempre alguém que faça o trabalho de treinador por menor valor ou de forma gratuita. Se em outros tempos os clubes amadores viviam muito à custa dos subsídios das Autarquias, neste momento essa fonte de rendimento secou ou então é muito reduzido face às despesas. A este corte, há que juntar o facto de que os patrocinadores também já não investirem tanto no futebol (e quando “falo” em patrocinadores, “falo” das pequenas empresas/negócios locais), que antigamente apoiavam fortemente os clubes das suas terras. A estas quebras de receita juntamos os aumentos: luz, água, gás, gasóleos, materiais/equipamentos desportivos, etc... Depois ainda têm despesas associadas às Associações de Futebol para inscrição de atletas, jogos, vistorias, multas... valores irreais para a realidade do nosso país... Os próprios clubes são dirigidos: - por pessoas que muitas vezes não têm qualquer conhecimento em gestão desportiva; - por 2 ou 3 carolas que assumem diversas funções dentro do clube e que graças a eles, o clube ainda mantém as portas abertas, mas mais uma vez sem experiência ao nível da gestão. Ou seja, no fundo os clubes amadores face a esta disparidade entre receitas e despesas têm duas alternativas: fechar portas e com isso impedir que crianças, jovens e adultos possam praticar futebol, ou então manter as portas abertas e pagar o que podem a treinadores. Será então que se justifica haver em alguns concelhos do país um elevado número de clubes de futebol tão perto uns dos outros? Ou se deveriam fechar determinados clubes para que outros pudessem usufruir de um maior subsidio?? Não concordo com a diminuição do número de clubes, desde que eles tenham um número considerável de atletas. Se em determinado concelho tivermos 5 clubes, cujas camadas jovens estão cheias de crianças, porque deveria-se fechar o clube X ou Y? Sobretudo agora que tanto se fala da falta de atividade física e desportiva por parte das crianças/jovens. Ok, elas poderiam experimentar outras modalidades desportivas, mas o que gostam realmente é de futebol... É uma questão cultural... Voltando ao início da reflexão sobre os treinadores. A principal preocupação do treinador deverá ser a sua valorização “profissional”, mesmo estando no amador. Por esse motivo é que no livro que lancei, num dos temas pode-se ler: “Independentemente de o treinador receber ou não subsídios, e que estes sejam de maior ou menor valor, somos da opinião que a partir do momento em que um treinador aceita as condições que um clube lhe oferece e que se compromete para tal, este deve empenhar-se ao máximo para conseguir alcançar os objetivos da equipa.”
Outro ponto de reflexão prende-se com os valores que se praticam nas formações para treinadores. Se estes estão adequados à realidade portuguesa. Nos últimos anos temos assistido ao aumento significativo de pessoas a se inscreverem tanto em cursos de futebol, como a ingressar nos cursos de Alto Rendimento com Especialização em Futebol, das Faculdades de Desporto, muito motivados pelos fantásticos treinadores portugueses que temos na atualidade a treinar dentro e fora de Portugal. Ora, se a procura é muita, logicamente que os valores da oferta aumentam, pois existe mercado. A minha opinião relativamente aos cursos é a seguinte: Curso 1º nível - um curso para encher os cofres das Associações (nem sequer é reconhecido fora de Portugal, ou pelo menos não o era); Curso 2º nível - inadmissível que licenciados (antes de Bolonha) e atuais mestrados em alto rendimento com especialização em futebol não tenham equivalência. Cursos 3º e 4º nível, não tenho conhecimento, mas os feedbacks de uma forma geral são muito positivos. Os valores dos cursos e das maiorias das formações para se obter créditos para renovação da cédula do treinador, são irreais e para agravar algumas são de má qualidade.
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