Enquanto Ser Humano, considero que o valor mais importante que um Homem possui é a sua Palavra.
No Futebol, a palavra torna-se “concreta” no dia em que um jogador assina e assume um COMPROMISSO: Um compromisso não só para com a equipa, mas também para com o clube, treinadores, colegas e sócios/adeptos.
Se ao nível profissional os jogadores são “obrigados” a assumir esse compromisso pois são pagos para tal, ao nível amador, não existe essa “obrigação” e caberá à consciência de cada um fazer aquilo que bem entende. É exatamente neste ponto que podemos concluir quem é Homem para honrar a sua palavra.
Durante a minha vivência no futebol, tenho assisto a colegas de profissão a abandonar as suas equipas, sendo que uma das razões mais vezes evocadas é que nos seus planteis haviam jogadores com falta de compromisso. Em conversa com um colega recentemente, queixou-se exatamente da mesma situação. Igualmente em conversa com um ex jogador meu, sobre um seu colega de equipa (que tem um potencial enorme para andar em outros patamares), este simplesmente não se compromete com a equipa.
Também vou constatando, que quanto mais baixo a divisão, mais aparecem jogadores assim. Ou seja, infelizmente este problema é transversal a muitas equipas de futebol amadoras.
A boa noticia é que isto traduz-se apenas em 2/3 jogadores de toda a equipa, mas que se não for devidamente controlado pelo Treinador e restante Equipa Técnica, pode se transformar num problema da equipa.
Não existem características especificas para estes jogadores, no entanto existem algumas pistas em que os treinadores podem estar atentos e que pode eventualmente indiciar algo:
- jogadores que surgem nas captações com enorme potencial e com um histórico futebolístico de clubes mais “fortes”;
- jogadores que estiveram uma ou mais épocas sem jogar;
- jogadores que tendem a falar mal dos antigos treinadores;
- jogadores que pensam que são indispensáveis à equipa;
- jogadores que gostam de dar “graxa” ao treinador e que por esse motivo pensam que têm estatuto privilegiado em relação aos restantes colegas de equipa;
- jogadores que tendem a faltar ao treino quando não há jogos;
- jogadores que tendem a colocar os treinos como última prioridade na sua vida;
- jogadores que “aplaudem” o treinador quando este faz cumprir o Regulamento aos seus colegas de equipa, mas que depois “amuam” quando as mesmas são aplicadas aos próprios;
- jogadores que tendem a “amuar” quando não são convocados ou ficam no banco e depois esse comportamento se reflete na semana de treinos seguinte;
- jogadores que falam sempre na 1ª pessoa (EU) em vez de falarem na 3ª pessoa (Nós);
- jogadores que tendem a ir fazer “queixinhas” aos treinadores adjuntos do treinador principal, tentando por vezes, indiretamente, criar desconforto entre ambos através do enaltecimento dos adjuntos (daí a importância do Treinador Adjunto ser alguém da total confiança do Treinador Principal).
Quando estou perante estas situações tomo sempre um conjunto de medidas:
- ter uma equipa técnica de confiança;
- falar com antigos treinadores e/ou responsáveis por clubes por onde esses jogadores passaram;
- apresentar um Regulamento, onde o jogador antes de assinar terá que concordar com tudo o que nele está contido, para depois poder fazê-lo cumprir;
- dar a preencher uma ficha de onde irei obter algumas informações mais especificas do jogador;
- passar constantemente a mensagem do NÓS em vez do EU;
- planificar os treinos;
- o treinador ser fiel aos seus princípios e fazer cumprir as regras internas.
Haverá com certeza outros indícios e outras estratégias para combater este problema, como também excepções (por exemplo um jogador que falta ao treino por motivos profissionais), no entanto este artigo apenas tentou dar uma luzes do que se pode ser feito para que o problema não se arraste no tempo e consequentemente possa se propagar a toda a equipa.
Termino com este texto de Éderson Iarochevski:
“Comprometer-se é ousar. Exige tenacidade. Acontece na continuidade. O compromisso não sobrevive na pessoa desprovida de esperança. Comprometer-se hoje, e desistir amanhã, é veleidade. O compromisso é criador. Quem se compromete sempre se realiza e promove realizações. O compromisso exige o “amor criativo” por aquilo que se assume. Compromisso exige duas companhias fundamentais: comunhão e participação. É precisa conjugar os verbos “estar” e “ser” junto com os outros e com aquilo que se assume. O compromisso projeta a pessoa para algo novo, que ainda não foi realizado. O compromisso assumido, muitas vezes, pode ter um sabor amargo pelas dificuldades que se apresentam, mas ele não poderá ser rejeitado. Quem se compromete se predispõem a viver com mais alegria. O risco assumido precisa ser entendido como possibilidade de realização. Assumir um compromisso é abraçar prioridades. Assume-se porque se opta por um valor de grande significado. Quem tem consciência amadurecida não irá comprometer-se com mesquinharias. O compromisso revela a escala de valores que são adotados pelas pessoas. O medo de comprometer-se é, no fundo, o medo de revelar-se. Pelo compromisso assumido, a pessoa revela quem ela é, de que lado está, a quem oferece apoio, rejeita, no que acredita, o que valoriza. No compromisso assumido uma pessoa permite-se conhecer e ser conhecida. Quem sabe é chegada a hora de cada um se comprometer com uma causa nobre e justa. Os constantes desafios e os grandes riscos são companhias inseparáveis de quem ousa se comprometer. Mas, o que será da vida sem a ousadia de se comprometer por aquilo que dignifica a vida da pessoa, e devolve a esperança ao mundo?”
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