Hoje em dia, os pais despendem muito da sua vida pessoal para que os filhos possam treinar futebol. Seja porque têm que percorrer grandes distâncias (treinos e jogos), seja porque não têm fins de semanas livres devido aos jogos, seja porque durante a semana têm que lavar a roupa do treino mais que uma vez, seja porque ficam a apanhar frio e por vezes chuva para assistir aos treinos/jogos, seja porque abdicam muitas vezes de estar com outras pessoas para poder acompanhar os seus filhos, seja porque têm que fazer um esforço financeiro... Seja qual for o motivo, acredito que muitos desses esforços poderão ser verdadeiros sacrifícios.
Naturalmente que quando chegam ao fim de semana, inconscientemente querem que as equipas dos seus filhos ganhem os jogos. Sentir que os filhos têm sucesso acaba por ser uma recompensa pelos seus sacrifícios e fá-los sentir que o sucesso também lhes pertence. Estes sucessos podem promover a que os pais, por um lado, projectem nos seus filhos as suas próprias expectativas e/ou sonhos (o querem ter sido jogadores profissionais, mas que não conseguiram ou o facto de observarem um suposto talento nos filhos que os poderão levar no futuro à profissionalização na modalidade) e por outro lado “enriquecer” as suas vidas sociais, “gabando-se” dos sucessos dos filhos aos seus amigos.
Desejarem que as equipas dos seus filhos ganhem, não é errado. Aliás, os pais devem apoiar as equipas onde jogam os seus filhos, festejar as suas conquistas e ficarem orgulhosos pelos sucessos que eles alcançam (ou não). No entanto, é errado projetar as suas próprias expetativas e sonhos nos seus filhos. Essa projeção leva muitas vezes a que exerçam pressão sobre os jovens. Essa pressão, para além de ser um ato extremamente egoísta por parte dos pais, acabam por não respeitar o desenvolvimento pessoal/identidade do filho.
Quando as vitórias não surgem, a tendência destes pais é tentarem arranjar um responsável a quem possam culpabilizar (muitos nem sequer dão-se ao trabalho de equacionarem a hipótese de simplesmente a equipa dos seus filhos não serem suficientemente boas ou as equipas adversárias serem simplesmente melhores) e portanto, geralmente, a culpa é do treinador. Efetivamente o treinador poderá ser o responsável pelas derrotas ou fraca evolução da equipa, no entanto isso não dá direito aos pais de tentarem substituir (eles próprios) o treinador, dando indicações (seja em casa ou quando estão na bancada a assistirem aos jogos), como também de falar mal do treinador aos filhos. Mais uma vez, comportamentos deste género para além de serem intoleráveis (os pais se querem ser treinadores, que vão tirar o curso e que arranjem uma equipa para treinar), poderão estar a colocar os seus filhos numa posição desconfortável/difícil perante o treinador e a própria equipa, que poderá prejudicá-los (não que o treinador os vá castigar, pois as crianças/jovens não podem ser responsabilizados pelos atos dos pais), mas pelas dúvidas que possam surgir nas suas cabeças - pai vs treinador a quem devem ouvir?
Outra tendência de pensamento dos pais é que as vitórias são sinónimos de aquisição e evolução de competências. Na minha opinião não existe qualquer paralelismo. Acredito que a aquisição e evolução das competências nas crianças/jovens jogadores só existe quando: o treino é de qualidade (responsabilidade do treinador em planificar e operacionalizar); condições de treino (materiais, espaço para treinar…); quando a competição entre as equipas é equilibrada; quando os pais limitam-se a ser pais.
Termino enumerando exemplos que eu considero que são realmente as grandes vitórias:
os filhos estarem a praticar uma modalidade desportiva;
os filhos gostarem do que estão a fazer;
os filhos não se sentirem pressionados pelos pais;
os filhos sentirem os apoios dos pais (independentemente dos resultados);
os filhos crescerem fortes e saudáveis;
os filhos tornarem-se bons cidadãos;
os filhos serem felizes.
… E percebam que se têm a possibilidade de poderem estar presentes, a assistir a tudo isto, isso sim, é uma vitória… e esta será a vossa maior vitória pessoal.
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