GUARDA-REDES - PROVAVELMENTE O JOGADOR MAIS NEGLIGENCIADO NOS TREINOS (quando não são acompanhados por um treinador de guarda-redes)
- Vitor Escudeiro
- 8 de fev. de 2024
- 4 min de leitura
No futebol atual, a posição do guarda-redes é cada vez mais importante, não só porque é a ultima barreira defensiva a ser ultrapassada, antes do adversário chegar ao golo, mas também é o primeiro jogador a iniciar o ataque da sua equipa. Atualmente, é difícil para qualquer equipa atingir os seus objetivos se não tiver um bom guarda-redes.
Por essa razão, são cada vez mais os clubes, e nomeadamente os Treinadores Principais, a dar uma maior importância ao Treinador de Guarda-redes e a não prescindirem deste técnico nas suas equipas técnicas. Pessoalmente, é o treinador que mais valorizo na minha equipa técnica. Aliás a importância que dou a esta função é tão grande que quando escrevemos o livro "Ser Profissional no Amador" fizemos menção que se um treinador estiver num clube onde apenas possa ser acompanhado por 1 treinador na sua equipa técnica, esse técnico deverá ser obrigatoriamente alguém que tenha competência ao nível do treino de guarda-redes.
Porquê?
Ensino e aperfeiçoamento das dimensões técnicas e táticas do guarda-redes: dada a sua especificidade, sendo inclusivamente o único jogador da equipa com ações técnicas diferenciadas dos outros jogadores (pegas, encaixes, desvios, socar, deslocamentos, reposições de bola com as mãos, quedas), o treinador de guarda-redes ajuda no ensino e aperfeiçoamento desses atributos técnicos, mas também nas questões táticas como a reação às ações dos adversários, sair dos postes, comunicação com os atletas, orientação da barreira, sair a jogar;
Ensino e Aperfeiçoamento ao nível da dimensão psicológica: o treinador de guarda-redes não só melhora as habilidades técnicas e táticas, mas também ajuda a desenvolver uma atitude competitiva, disciplina, confiança, inteligência, concentração e controlo emocional;
Integração na equipa: o treinador de guarda-redes ajuda a integração do guarda-redes no Modelo de Jogo da equipa;
Segundo dados da FIFA, nas competições organizadas por si, a presença do treinador de guarda-redes nas equipas técnicas em 2006 correspondia a 81% das seleções principais, tendo apenas alcançado os 100% de seleções a partir do ano de 2018. Relativamente às competições dos sub 17 e sub 20, só em 2011 é que surge a figura de Treinador de Guarda-redes nas equipas técnicas das seleções (87% e 91% respetivamente). Até 2019 não se tinha atingido os 100% de seleções com a presença de treinadores de guarda–redes, para estes escalões.
Se a função de Treinador de Guarda-Redes já está enraizada no futebol profissional à alguns anos, no futebol amador e infanto-juvenil, ainda existem muitos clubes que não dão a devida importância a esta função.
O treino sempre me fascinou e por essa razão sempre que posso assisto a treinos de futebol de outras equipas, independentemente dos escalões e/ou divisões.
Quando observo treinos de equipas onde não existe a figura do treinador de guarda-redes, verifico que na maioria das vezes os guarda-redes são negligenciados. As abordagens mais comuns utilizadas por parte dos treinadores são:
mandar os guarda-redes aquecerem sozinhos na baliza (isto em escalões mais velhos) - o que resulta em aquecimentos mal feitos, muita conversa e brincadeira, não se preparam física e mentalmente para o restante treino, sendo que depois quando são integrados com a restante equipa não se encontram nas melhores condições para treinarem;
o treinador adjunto vai aquecer os guarda-redes - o aquecimento limita-se a exercícios de mobilização articular, coordenação e o resto do tempo a defenderem remates;
os guarda-redes são integrados no aquecimento com a restante equipa - garante-se que os guarda-redes aquecem bem, no entanto sem trabalho específico que se exige para a sua posição. Por norma depois desse aquecimento vão logo para a baliza para começarem a defender;

em exercícios de estações, ou circuito (como por exemplo o exercício demonstrado na imagem ao lado) - enquanto os jogadores de campo executam alguns exercícios complementares antes finalizarem, os guarda-redes não executam qualquer trabalho específico, limitando-se apenas a defender as bolas. Estes exercícios que muitas vezes são utilizados em escalões mais jovens, a própria finalização muitas vezes não acontece, porque os mais pequenos ou falham a bola, ou rematam ao lado, fazendo com que os pequenos guarda-redes passem imenso tempo sem tocar na bola;

em exercícios de finalização com cruzamento (como por exemplo o exercício demonstrado na imagem ao lado) - é imposto aos guarda-redes como condicionante o não saírem aos cruzamentos;
em exercícios de jogo - é imposto ao guarda-redes como condicionante o não poderem sair da baliza;
Estes são apenas alguns exemplos que justificam o porquê de eu defender, a existência da figura do treinador de guarda-redes numa equipa técnica.
No entanto também é importante que quando a equipa técnica tem nos seus quadros este técnico, é importante que o treinador principal durante a planificação dos treinos, tenha em conta o treino específico de guarda-redes.
Em baixo segue um exemplo do tempo disponível para o treino de guarda-redes, consoante o número de treinos semanais:
Nº de Treinos Semanais | 1ºtreino (90minutos) | 2ºtreino (90 minutos) | 3ºtreino (90 minutos) | 4ºtreino (90minutos) |
4 | 30 minutos | 45 minutos | 30 minutos | 20 minutos |
3 | 45 minutos | 30 minutos | 20 minutos | |
2 | 45 minutos | 20 minutos |
Termino, apelando à reflexão sobre o tema, sobretudo da parte daqueles que ainda não dão a importância devida ao treino de guarda-redes e à existência de um técnico com competências para desempenhar a função de treinador de guarda-redes.
Bibliografia:
"Ser Profissional no Amador" (Escudeiro, V. et al. - 2016)
Webgrafia:
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