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TREINANDO PELA 1ª VEZ

Atualizado: 16 de out. de 2024


Sempre que alguém predispõe-se a treinar uma equipa pela 1ª vez, quando chega a um clube, por norma, acontece duas das seguintes situações: se o clube tiver falta de recursos humanos é lhe atribuída a equipa mais jovem, se o clube possuir recursos humanos, fica a ajudar o treinador da equipa mais jovem. Seja qual for a situação do clube, por norma acabam sempre por ficar a acompanhar as equipas mais jovens. Estas situações acontecem recorrentemente pois quem tem o poder de decisão dentro dos clubes, por norma, tem (ou têm) a ideia pré concebida que é mais fácil treinar miúdos mais novos do que miúdos de escalões superiores. Outra ideia que parece-me ser pré concebida, é que esses mesmos decisores não atribuem tanta importância aos escalões mais novos comparativamente aos escalões mais velhos.


Estou totalmente em desacordo, que se dê mais importância a determinados escalões relativamente a outros. Todos devem ter o mesmo grau de importância, pois estamos perante crianças e jovens de diferentes idades, que se encontram em diferentes estágios de desenvolvimento, logo com diferentes características, necessidades, exigências e especificidades de treino.


Este paradigma que está instituído no Futebol deve ser repensado, até porque, atualmente, para muitos clubes, a sua principal fonte de receita são precisamente os escalões de formação, nomeadamente os mais baixos, pois por norma são os que têm mais praticantes. Nesse sentido é do próprio interesse do Clube possuir à frente de cada escalão treinadores competentes que possam oferecer um serviço de qualidade às crianças (e aos encarregados de educação, pois são eles que pagam).

No seguimento da escolha dos treinadores para cada escalão, existe outro paradigma que tem que ser alterado no futebol, que é a valorização dos treinadores de formação. Os clubes tendem a valorizar os treinadores que treinam equipas de escalões superiores (nomeadamente os seniores), dando cada vez menos valor aos restantes treinadores, à medida que vamos descendo na hierarquia dos escalões.

Isto leva-nos a um problema que atualmente podemos assistir um pouco por todo o lado, que é a tentativa dos treinadores de equipas de escalões inferiores (consciente ou inconscientemente), de se valorizarem, através da obtenção de resultados.

Acredito que cada treinador (devido à sua personalidade e forma de comunicar, aliado ao conhecimento específico das características dos diferentes estágios de desenvolvimento das crianças) está mais capacitado para treinar determinados escalões em detrimento de outros, portanto todos devem ser valorizados por igual.


Felizmente, tenho conhecimento de clubes, que já reconhecem a importância de todos os escalões e que por esse motivo tentam sempre colocar à frente das suas equipas, treinadores com as características certas para os diferentes escalões.


Então, qual o caminho que deveria ser seguido por estes treinadores que vão iniciar-se no treino?


Em primeiro lugar, nunca lhes deve ser atribuída uma equipa.

Idealmente, este treinador deverá de percorrer os diferentes escalões do clube (e não equipas, pois existem clubes que para o mesmo escalão têm 2 ou mais equipas), durante 1 ou 2 semanas (em cada escalão), para tentar perceber em qual é que, segundo a sua personalidade, melhor se consegue encaixar.


Após esse período de passagem pelos diferentes escalões, deverá ser integrado em uma equipa técnica onde nas primeiras semanas deverá apenas observar, tirar notas, realizar reflexões sobre as mesmas e se for necessário questionar o treinador principal sobre as duvidas que possam surgir. Nesse sentido é importante que o treinador principal dessa equipa, tenha o perfil e disponibilidade para ensinar e guiar o novo membro da sua equipa técnica.

(Mas então o que deve o novo treinador observar?

A grande tendência dos treinadores novos é apenas observar os exercícios, nomeadamente a sua organização e operacionalização. No entanto, observar só isto é bastante redutor. Deverá perceber qual o objetivo do exercício, as componentes críticas, as variantes de facilidade ou dificuldade, os feedbacks dado pelo treinador, perceber o porquê do espaço, tempo e número de jogadores do exercício. Para além de observar os exercícios, deverá igualmente observar o comportamento do treinador, nomeadamente ao nível: do seu dinamismo/entusiamo; a forma como trata os jogadores; a comunicação; o fazer cumprir as regras; a forma como organiza, orienta e controla o treino; a forma de como mantém o grupo coeso… Ao fim ao cabo, tudo o que é importante para que mais tarde possa desenvolver a sua função da melhor maneira possível.)


Após este período de observação, então deverá começar a ajudar ativamente no treino. Primeiro a auxiliar o treinador nos exercícios e depois, à medida que vai ganhando confiança, ficar responsável pela orientação de um exercício.

É importante que o treinador principal, partilhe antecipadamente o plano de treino e as funções que o novo treinador terá nessa sessão, de modo a que este possa prepara-se da melhor forma possível e esclarecer dúvidas (caso haja).

Deve-se evitar ao máximo transmitir o plano de treino, minutos antes do início da sessão ou quando esta já se iniciou. Este último caso irá promover a desatenção dos treinadores sobre o treino e criar grandes momentos de pausas, o que promove a desconcentração dos jogadores.


Mais tarde, mediante a sua evolução, o treinador principal poderá incumbir ao treinador novo a elaboração de sessões de treino.


Para terminar… O treino deve ser considerado como algo muito sério, pois pode influenciar positiva ou negativamente as crianças e jovens. Nesse sentido, e de uma vez por todas, não se pode delegar em pessoas sem qualquer tipo de experiência de treino (ou mesmo de trabalho com crianças), as funções e responsabilidades de assumir e liderar uma equipa!

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